Foto Leonardo Silveira-PMV
Com apenas 16 anos, piloto de Vila Velha garantiu o nono título para a tradicional equipe Camaro Amarelo, em evento que misturou velocidade, união da comunidade e uma emocionante homenagem ao jovem piloto Vandinho, vítima de acidente de trânsito.
A velocidade tomou conta do asfalto da Rua Engenheiro Rubens Bley, no Bairro da Penha, em Vitória, no último fim de semana. Com apenas 16 anos e correndo pela primeira vez na área, o piloto Felipe Mantovaneli, de Vila Velha, mostrou que tem o esporte na veia e cravou seu nome na história da 15ª edição do Rolimã Racing. Voando baixo, o garoto não só conquistou seu primeiro título, como também garantiu o nono campeonato para a lendária equipe Camaro Amarelo, provando que a nova geração vem com tudo. Completaram o pódio: Thaylon Miguel (2º), Edval de Souza (3º) e Bruno de Carli (4º).
Nos dias 20 e 21 de setembro, o Bairro da Penha se transformou em palco de uma grande festa do esporte capixaba. Ao todo, mais de 70 pilotos, entre novatos e veteranos, aceleraram seus carrinhos de rolimã em busca da glória. Segundo a organização do evento, a média de público variou entre 4 a 6 mil pessoas.
O Rolimã Racing, que já virou tradição e faz parte do calendário oficial de Vitória, reuniu a comunidade do Território do Bem, público da Grande Vitória, além de ter recebido as visitas de autoridades como o governador Renato Casagrande, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, além de parlamentares da capital, Serra e Cariacica, reforçando a relevância da iniciativa para a cidade e o estado.

Entenda a competição: a pista ferveu!
Uma paixão que passa de geração em geração, no sábado (20), a seletiva entre os pilotos novatos já deu o tom da competição: a disputa seria acirrada. Os melhores garantiram vaga para a grande final no domingo (21), que contou com 52 competidores representando sete equipes, descendo uma ladeira de 200 metros, podendo atingir uma velocidade de até 60 km/h.
A rapaziada do Espírito Santo recebeu competidores de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, mostrando que a fama do Rolimã Racing do Bairro da Penha” já ultrapassou as fronteiras capixabas. Com carrinhos de ferro e madeira voando baixo no asfalto quente da comunidade, a adrenalina era sentida pelos pilotos, e visível no rosto da galera, que acompanhavam cada descida com gritos, sorrisos e filmagens com celulares.

O campeão tá na área!
Convidado pelo piloto Leo Padilha, tetracampeão do Rolimã Racing, para integrar a equipe Camaro Amarelo (Bairro da Penha), Felipe Mantovaneli chegou como novato e saiu como rei da pista. O adolescente, que já tem experiência em competições automobilísticas de arrancada, mostrou maturidade de veterano. Após sete baterias eletrizantes, ele cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, com a tranquilidade de quem sabia exatamente o que estava fazendo.

“A palavra é gratidão! A Deus, ao meu pai, à equipe Camaro e a todo mundo que me apoiou. É um sentimento que não dá pra explicar”, disse o campeão, ainda em êxtase, logo após a vitória que lhe rendeu uma moto elétrica como premiação. “Nas primeiras baterias eu estava tremendo todo. Nessa última, já estava muito tranquilo, com o coração calmo. Dei uma olhadinha para o lado e venci”, completou o jovem, com um sorriso.
Diante de tanta alegria, o orgulho era visível no rosto do pai de Felipe. Adriano Mantovaneli, de 42 anos, apresentou o filho à equipe da Camaro. “Eu gosto de velocidade e coloquei meu filho nisso. Já era amigo dos meninos da Camaro. A Camaro é top na amizade, e o moleque tem sangue nos olhos. É orgulho de pai. Perfeito!”, comemorou.
Legado que fica e a saudade que bate

Mais do que uma competição, a 15ª edição do Rolimã Racing foi marcada por uma forte emoção. O evento prestou uma homenagem suave e sentida a Evandro, o Vandinho, piloto da Camaro Amarelo, que faleceu tragicamente em um acidente de moto há pouco mais de um mês. Vandinho era “cria do bairro” e sobrinho de Mazinho, um dos fundadores do evento, e que atuou como diretor de pista nessa edição. A vitória da sua equipe teve um sabor especial, de dever cumprido e de legado que continua.
Marcelo Loureiro da Silveira, um dos organizadores do evento, falou sobre o sentimento. “Há um mês e pouco, perdemos outro irmão, o Vandinho, um cara gente boa ao extremo. Esse ano, tivemos a vontade de fazer diferente, de tentar algo novo, e graças a Deus deu certo. Foi muito por essa galera que já passou por aqui”, desabafou o diretor presidente da equipe Camaro.
Esporte reconhecido por lei: rolimã é coisa séria!
A corrida de carrinho de rolimã deixou de ser só brincadeira de rua e virou esporte reconhecido por lei no Espírito Santo. Em novembro de 2024, o governador Renato Casagrande (PSB) sancionou a Lei N° 12.244, o que permite às competições captar recursos e receber incentivos. Esta edição contou com o patrocínio do Governo do ES e da Prefeitura de Vitória, juntamente com a organização do Instituto Conexão Perifa, além do apoio fundamental dos fundadores do evento, amigos e moradores do Bairro da Penha.
Conforme essa abrangência, a organização do evento planejou uma ação de responsabilidade social para reafirmar seu compromisso com a sociedade e poder público. Na ocasião, as camisas do evento puderam ser adquiridas por troca de doações de alimentos não perecíveis que serão distribuídas dentro da comunidade do Bairro da Penha e entorno, para famílias em situação de vulnerabilidade social. O vento ainda fomentou o comércio local, além ter proporcionado um destaque para o esporte e turismo capixaba.
Crislayne Zeferina, presidente do Instituto Conexão Perifa, destacou a importância da organização coletiva. “Essa edição foi de suma importância porque, com o instituto vindo como realizador, a gente trouxe mais transparência para a comunidade sobre o uso do recurso público. Foi algo feito de forma coletiva e extraordinária”, afirmou.

Marcelo Loureiro, que também é engenheiro ambiental, se expressou. “O principal fundamento dessa competição é tentar trazer uma visão positiva pra essa área que, infelizmente, é tão focada em questões negativas. A Rolimã Racing, aqui, no bairro, a comunidade abraçou o evento como forma única”, comentou o piloto, que já correu 13 edições, somando um título e um vice campeonato.
As minas que voam baixo
E quem disse que lugar de mulher é fora da pista? No Rolimã Racing, elas mostraram que têm velocidade e coragem de sobra. Três pilotas de fibra representaram a força feminina. Neusinha da Gurigica, moradora do Território do Bem, correu pela equipe “Só Novela” e relembrou os tempos de infância.
“A gente volta à infância. Eu descia o morro de São Benedito com lindo de Quiboa, na palha de coco, sentada naquelas tampas de fogão, então, relembra a infância. E mostramos para a garotada que existem brincadeiras sadias que podem se transformar em esporte, além de envolver as famílias.”, disse a pilota que correu pela décima vez consecutivo.

Direto de Belo Horizonte (MG), Nilce Gomes, a “Nilce Maravilha”, de 50 anos, foi pura ousadia. “Eu gosto de competir na categoria masculina. Se tivesse feminina, eu não iria. Sou brutona!”, brincou. Para ela, a sensação é única: “Você fica em êxtase, esquece do mundo. É só você e seu carrinho ali”, disse sorrindo.

Completando o trio, Laiane Diniz, de 24 anos, moradora do Bairro da Penha há apenas nove meses, já se sentiu em casa. “A comunidade abraça a gente. O rolimã tem muita adrenalina, e eu sou uma menina que gosta disso, por isso resolvi participar. A equipe Camaro me acolheu”, contou a jovem natural de Afonso Cláudio.

A força do ES e de outros estados
A prova também recebeu feras da região capixaba e de outros estados, como o presidente da Associação Capixaba de Carrinhos de Rolimã, Alexandre Barbosa Lopes, popularmente conhecido como Alexandre Caveira, campeão na edição de 2019, pertencente a equipe Caveirões do Asfalto.

Vindo de fora, Gardene Gelton, o GG, presidente da Federação Mineira de Carrinho de Rolimã, pela primeira vez correu na pista do Bairro da Penha.


Já o piloto Maxwell Mascarenhas, da equipe Risca Asfalto, de São José dos Campos (SP), Maxwell, participou pela sétima vez do evento. Ele que realiza uma alucinante corrida de carrinho de rolimã em São Paulo, na Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí, com 7 km de descida, entende que a competição de carrinho de rolimã é sobre recordar a infância, resgatar a cultura e unir as pessoas.
“A tecnologia foi boa, mas separou a família. A nossa ideia é trazer a família de volta, agregada ao esporte”, finalizou o piloto Maxwell, que tem o lema: “Perdendo ou ganhando, descendo a ladeira!”.
E foi nesse espírito que o Bairro da Penha celebrou mais um capítulo do Rolimã Racing.
Edição: Geisiane Teixeira
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