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Marcha Contra o Extermínio da Juventude denuncia violência policial no Território do Bem

Foto: Gi Fotografia 

A quinta-feira (20/11), Dia Nacional da Consciência Negra, foi marcada pela realização da 18ª edição da Marcha Contra o Extermínio da Juventude Negra, que contou com a participação de movimentos sociais, coletivos, sindicatos, centrais sindicais e mandatos parlamentar. Com o tema “o silêncio que grita”, a Marcha, realizada pelo Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), teve concentração na praça de Itararé e seguiu rumo à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

O local da concentração foi escolhido por ser o Território do Bem um lugar no qual há muitas ações policiais que acabam em morte dos moradores, pessoas feridas e no cerceamento das atividades de lazer e cultura realizadas nas comunidades, como aconteceu em julho deste ano. Na ocasião, mesmo com alvará para realização de uma festa junina, a Associação de Moradores de São Benedito foi surpreendida com a ação de policiais que usaram spray de pimenta para acabar com o evento.

Ana Clara – Foto: Gi Fotografia

A Marcha contou também com a participação das comunidades do Território do Bem. Moradora do Bairro da Penha, a universitária Ana Clara dos Santos, que faz parte do Coletivo Favela em Foco e do Coletivo Evas Negras, acredita que a escolha por Itararé para a concentração da Marcha foi acertada. “É importante ter uma marcha que se inicia pelo Território do Bem, pois é um dos mais visados pela Polícia Militar. É, inclusive, cercado pela PM. Ela está em todas as extensões do território”, diz.

Ana Clara aponta que a união da sociedade civil, por meio da Marcha, para denunciar as violências que acontecem mostra que as comunidades não estão sozinhas. “Queremos a presença do Estado na educação, na saúde e várias outras políticas públicas, mas ele só vem aqui para nos matar. Aí é importante ter a Marcha se iniciando aqui”, defende.

Ter a Ufes como ponto final, afirma Ana Clara, também é importante. De acordo com ela, isso é uma denúncia quanto ao fato de que na parte alta do Território do Bem não tem nenhum ônibus que vá até a universidade. “As pessoas que estudam na Ufes têm que ir a pé na pista para pegar um ônibus. E ao voltar, tem que descer na pista para subir a pé até em casa”, diz.

Emanuella do Nascimento – Foto: Gi Fotografia

Durante o trajeto a Marcha passou pelo quartel da PM, em Maruípe. “Escolhemos passar por aqui porque é um lugar que representa a violência do Estado em relação aos nossos corpos. É por aqui que muitas das nossas vidas são interditadas, que sonhos são silenciados, matados, através da bala do Estado, que diz que quer nos dar segurança. Segurança para quem, se não sei se hoje conseguiremos voltar para casa? Segurança para quem, se quando a polícia passa não nos sentimos seguros?”, questiona a psicóloga Emanuella do Nascimento, integrante do Fejunes.

Durante o trajeto também foram recordadas pessoas que se destacaram na luta antirracista, como o militante dos direitos humanos e fundador do Fejunes, Lula Rocha, falecido em fevereiro de 2021, e a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada pela milícia em março de 2018. A mãe de Lula Rocha, Maria da Penha Silva, compareceu à Marcha e externou sua satisfação em ver que a manifestação, que teve seu filho como um dos idealizadores, continua a ir às ruas todo ano. “Eu me sinto muito orgulhosa de saber que a juventude está dando continuidade ao legado de Lula Rocha”, diz.

Matéria: Elaine Dal Gobbo 

Foto: Gi Fotografia
Calango Notícias

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