Foto: Julián Samacá
José Costa Lima, de 70 anos, e Maria da Penha de Lima, 68, contam sobre o tempo que a diversão era brincar na rua

As memórias estão entre os bens mais preciosos que podemos adquirir ao longo desta vida. Transparentes, elas não são contempladas como no momento vivido; imaterial, nada pode ser tocado ou abraçado; inestimável, não pode ser comprada ou substituída; instáveis, não se sabe quando retornam com força ou desaparecem de vez. As memórias têm importância pessoal e social. Elas geram conexões profundas entre as pessoas e contemplam cada aspecto das personalidades, mas podem ser mais subestimadas do que os itens mais baratos do mercado. Ainda assim, existem pessoas que atribuem a elas o verdadeiro valor.
Nas memórias de um casal de moradores, a comunidade era um lugar tão tranquilo para se viver. José Costa Lima, de 70 anos, e Maria da Penha de Lima, 68, relembram tempos em que a diversão só dependia de quem saía para brincar. Assistindo desde jovens às transformações e desenvolvimentos do lar, agora os dois podem contar cada diferença. “Essa caixa d’água que tem aqui em cima, perto da Leitão da Silva. Você chegava ali, você via a Praia do Canto inteira, você via a praia. Hoje você não vê mais, acabou! Entendeu?”, recorda José Costa.
VÍDEO “VISÃO DE CIMA” (onedrive)
A visão para as praias de Vitória não é tão fácil hoje, com tantos edifícios obstruindo a vista, ainda em pontos altos como o “Morro da Caixa d’Água” (Fonte: Google Earth Studio)
Contudo, com o passar do tempo, as responsabilidades de adulto fizeram José guardar memórias de quando saía às quatro da manhã para trabalhar junto a tantos outros, diante de pilhas de lenha. Nessa época, ele trabalhava na região do bairro Santa Luíza, próximo à Estação de Distribuição de energia da EDP, onde existia uma serraria, transportando a madeira extraída para Gurigica, a mais de dois quilômetros de distância.

José foi exemplo no que muitos chamam de “O Dever de Pai” (com letra maiuscula mesmo, para enaltecer), e na rotina vislumbrava visões recompensadoras de sua família, como lembrou a esposa, durante a entrevista. “Quando a gente veio morar aqui, nessa casa aqui, […] ele saía pro serviço. Eu mais a minha filha ‘entrava’ debaixo da folha da bananeira e ‘ficava’ olhando para ele, aí ele, distante, dava adeus pra ‘nós’”, contou, enquanto falava sobre as construções que agora obstruem a visão.

pesar das adversidades, a família continuou avançando. Com os filhos criados e seguindo as próprias vidas, o casal agora foca em si. Maria da Penha, por exemplo, expandiu seus horizontes ao começar a estudar, algo que nunca tinha feito antes. “A única coisa que eu não fiz ainda é desfilar. Mas uma hora eu vou desfilar”, lembrou.
Ela retoma com emoção a memória de quando foi a uma biblioteca, espaço que descreveu como “a coisa mais linda”. Isso porque, além de incentivar as pessoas a estudar, Maria defende o ato de sonhar e persistir para realizá-lo. “Gente, eu nunca imaginava que eu depois de quase 70 anos, eu ia entrar na biblioteca e saber o que que eu estava fazendo e o que que eu não estava fazendo. A coisa mais linda, linda, linda”, revelou.
Finalizando, Maria trouxe de volta a lembrança de quando uma das garotas da biblioteca, que já havia conversado com tantas pessoas, foi até ela para questionar por que em todas as vezes que elas conversavam, Maria da Penha estava sempre sorrindo. Sua resposta foi simples. “Minha filha, a coisa mais linda que tem na vida é você sorrir.”
Texto por: Matheus Simmer e Guilherme Silveira, alunos alunas do curso de Jornalismo da FAESA, sob supervisão da professora de Projeto Integrador V (2024/2), Lara Rosado.
O jornal comunitário Calango Notícias, projeto da Varal, propôs a pauta de memória, que foi abraçada por alunos universitários do curso de Jornalismo da FAESA em um trabalho que uniu forças com a produção da 2ª Edição do Fotografia em Movimento, que é uma iniciativa do Ponto de Cultura Varal Agência de Comunicação/Ateliê de Ideias, com recursos do Edital de Premiação Cultura Viva Sérgio Mamberti – SCDC (@minc). Na 2ª Edição do Fotografia em Movimento, as aulas de Fotografia Documental foram ministradas por Ana Luzes e de Fotojornalismo por Zanete Dadalto.
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