Para realizar as atividades do dia a dia, Dona Dila precisa percorrer um caminho sem nenhum tipo de pavimentação. Foto: Nicoly Reis
Moradora do Morro do Jaburu, idosa precisa se arrastar por pedra alta para chegar à creche do neto, enquanto comunidade cobra há mais de 10 anos a ligação entre becos José Bones e José Rosa Neto
Matéria: Nicoly Reis
Aos 70 anos, Dila, moradora do Morro do Jaburu, enfrenta diariamente um desafio que antes não fazia parte da rotina. Com artrose nos dois joelhos, doença que surgiu nos últimos anos, ela já não consegue subir e descer a principal escadaria da comunidade sem sentir fortes dores. O caminho que antes percorreu de olhos fechados, como lembra, hoje só é possível graças aos remédios que, segundo afirma, a deixam “meio dopada”.
A dor tornou a escadaria uma segunda opção. Para buscar o neto na creche, no bairro João Bandeira, Dila passou a utilizar um atalho improvisado, uma trilha de barro, sem pavimentação, sem iluminação e com trechos tão irregulares que ela precisa, literalmente, se arrastar sobre uma pedra para conseguir chegar até a rua principal da comunidade. “Eu desço arrastando, não tem como descer em pé”, relata.
O cenário é agravado pela falta de limpeza. Tábuas, entulho e mato acumulado aumentam o risco de acidentes e de encontros com animais peçonhentos. “Pode ter até escorpião. É uma nojeira”, afirma. Em dias de chuva, o trajeto fica ainda mais perigoso, e Dila prefere não sair de casa. À noite, quando precisa ir à igreja, a travessia é feita no escuro, guiada pela própria fé, como descreve ela. “Jesus vai me trazendo, eu vou subindo”.
Impossibilidade de socorro
Dona Dila e outros moradores da região relataram o medo de um dia precisar de uma ajuda e o socorro não conseguir chegar até eles.

O percurso difícil reduziu drasticamente a circulação de Dila pela comunidade. “Fico mais tempo em casa porque eu não consigo descer e nem subir”, conta. Ela também teme pela vida em caso de emergência: ambulâncias não chegam ao local e carros por aplicativo só acessam um trecho mais abaixo do morro.
A moradora lembra ainda de vizinhos que já sofreram acidentes nas escadas. “A menina ali caiu com o menino no colo”, conta. Ela teme também passar mal sozinha e não conseguir um socorro. “Se eu passar mal, como é que vou descer aqui?”, questiona.
Pedido antigo
A situação enfrentada por Dona Dila não é isolada. A ligação entre os becos José Bones e José Rosa Neto é uma reivindicação antiga dos moradores. Segundo o presidente da associação do Jaburu, Sebastião Luiz, pedidos formais para restauração e acessibilidade das escadarias são feitos desde 2010, mas as melhorias nunca foram executadas com o estudo adequado de segurança e mobilidade.
Os moradores pedem pavimentação, nivelamento dos degraus, piso antiderrapante, corrimão e iluminação, itens básicos que garantiriam o Direito de ir e vir, sobretudo para idosos, crianças e mulheres que levam os filhos diariamente à creche.
Abaixo Assinado Solicitando construção Rampa Muro e Escadaria
Imagens anexadas ao pedido que mostra a situação do trecho
Para Dila, a construção de um acesso adequado significaria recuperar autonomia. “Vai mudar a minha vida para subir e descer. E o caminho das mulheres que levam as crianças na creche”, afirmou ela.
A reportagem do Calango Notícias procurou a Prefeitura Municipal de Vitória para comentar a situação e esclarecer o andamento do pedido da comunidade, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto.
- A deficiência não está na pessoa, mas na escada”, diz Defensor Público - 18 de dezembro de 2025
- Com artrose, Dona Dila troca a escadaria por um caminho de barro e pedras - 18 de dezembro de 2025
- A barreira urbana que transforma morros emilhas de Direitos negados - 18 de dezembro de 2025


Comment here