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Aos 71 anos, Dona Maria Jesus assiste de perto as mudanças na região de Gurigica

Foto: Renan Benha

*Texto: Danilo Asciba, João Vitor Tavares, Renan Benha e Tiago Taam

Dona Maria Jesus, uma mulher que é o elo vivo entre o passado e presente de sua comunidade, um símbolo de sabedoria e determinação

No bairro de Vitória, em Gurigica, vive Maria Jesus de Souza Alves, uma mulher de 71 anos que é um verdadeiro exemplo de luta e resiliência. Apesar da idade, Maria mantém uma rotina ativa e vibrante, envolvendo-se em diversas atividades e compromissos em sua comunidade, especialmente nas reuniões da associação de moradores. Sua dedicação ao bairro reflete seu amor pela comunidade e sua determinação em fazer a diferença na vida das pessoas que moram naquela região.

Além de ser um pilar fundamental para sua comunidade, Maria Jesus é também muito dedicada à sua família. Mãe de cinco filhos, ela enfrentou a dor pela perda de uma filha, mas essa tragédia nunca abalou sua força nem sua determinação. Hoje, ela é avó de 12 netos e bisnetos, que a admiram e se inspiram em sua sabedoria e força. Dona Maria é um verdadeiro testemunho das transformações no bairro de Gurigica, sendo um elo vivo entre o passado e o presente.

Foto: Thamyres Valadares

A história de Maria está totalmente ligada à história do bairro onde vive, e ela se tornou uma grande fonte de inspiração para todos ao seu redor. Com sua sabedoria e força, ela compartilha o que aprendeu ao longo da vida, mostrando como superar os desafios e enfrentar os problemas de frente. Maria passou por muitos momentos difíceis, como a depressão, que afetou sua vida em certos períodos. Mas ela não deixou que isso a parasse. Hoje, ela faz acompanhamento médico e cuida de sua saúde mental com a mesma força que sempre teve.

Além da dor profunda de perder sua filha, Maria também enfrentou o sofrimento de ver seu filho ser preso, uma notícia que ela soube pela televisão. Seu filho, de 40 anos, está preso há três anos, mas no próximo ano ele será transferido para o regime aberto. Esse momento foi extremamente difícil para Maria, mas, em vez de deixá-la abatida, só a fez mais forte.

Maria visita seu filho na prisão a cada 15 dias. Ela conta com esperança que ele está participando de medidas socioeducativas e fazendo aulas lá dentro do presídio. A formatura dele está prevista para o final deste ano, o que para ela é um sinal de progresso. A cada visita, Maria nota uma grande mudança no comportamento dele, e acredita na mudança de vida de seu progênito.

“Quando a gente visita ele a cada mês, a gente, como mãe, conhece nosso filho. Eu percebi uma grande mudança nele. Está bem melhor do que era antes, está muito melhor”, diz Maria, com confiança e esperança no futuro do seu filho.

Fé, resiliência e soluções

Dona Maria é uma mulher evangélica e de uma fé inabalável. Aos 71 anos, a mãe sempre soube transformar cada dificuldade em uma oportunidade de crescimento, aprendizado e superação. Em seus momentos mais difíceis, ela encontra força na sua crença e na sua determinação.

Foto: Julián Samacá Pulido

“Mas eu creio, Jesus, que já estou muito melhor do que antes. Quando minha cabeça começa a pesar, eu me sento aqui na mesa de casa, ligo o ventilador e não paro de rezar, eu não paro, não posso parar.”

Maria Jesus também é uma mulher empreendedora. Após participar do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), ela passou a receber um benefício de R$ 400,00 do Programa de Fomento à Geração de Renda (PFC). Com esse valor, Maria compra materiais, como tecido, para desenvolver suas atividades e gerar lucro. Além disso, ela vende doces para as crianças da região onde mora, ao ajudar a sustentar a família e, ao mesmo tempo, também contribui para a comunidade.

O CRAS é um serviço público que oferece uma série de programas, benefícios e projetos sociais no campo da assistência social. Ele atende famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidade e oferece apoio a diferentes grupos, como crianças, adolescentes, jovens, idosos e pessoas com deficiência.

Uma curiosidade sobre Dona Maria Jesus é que, na sua juventude, ela ganhou um apelido que ficou conhecido em todo o bairro. Devido aos seus característicos cabelos longos, vestidos floridos e brincos grandes, além de adornos mais ousados do que os que as pessoas costumavam usar na época, Maria passou a ser chamada de “Maria Cigana”. Esse nome logo passou a refletir sua personalidade alegre, carismática e cheia de vida.

“As pessoas costumavam perguntar se eu era cigana, por causa do jeito que eu me vestia”, comentou Dona Maria.

De Maria mineira à referência de Gurigica
Após inúmeras transformações, Gurigica se tornou sinônimo de paz, esporte e lazer (Tiago Taam)

Maria se mudou de Nanuque, Minas Gerais, para o Espírito Santo há 50 anos. Antes de chegar ao seu novo destino, ela acabou fazendo uma parada em São Paulo. Na cidade, não tinha familiares, mas foi acolhida pela família de seu falecido marido, com quem permaneceu por um tempo. No entanto, Maria não se adaptou à vida paulistana e não se sentia bem lá. Por isso, decidiu mudar-se para o Espírito Santo, onde passou a morar na fazenda de seu irmão.

Na época, ela trabalhava como empregada doméstica em Vitória. Depois, deixou a fazenda e passou a morar de aluguel no Alto do Jaburu, até finalmente se estabelecer em Gurigica, onde vive até hoje.

Quando Maria chegou ao bairro, se deparou com muitas dificuldades, especialmente porque não havia água encanada. Para conseguir água e dar banho aos filhos, ela fez amizade com os vizinhos da região na época, que acabaram ensinando-a como pegar água para sua casa. Ela aprendeu que precisava descer até a cisterna, localizada no pé do morro, e carregar os baldes até sua residência. Essa era apenas uma das dificuldades diárias, pois, à noite, a única fonte de luz disponível era a lamparina a querosene.

Naquela época, o bairro também enfrentava sérias limitações de infraestrutura. Maria passou por desafios enormes, como quando teve que ser levada de cobertor para o hospital para dar à luz a uma de suas filhas, já que não havia escadas nem transporte público para ajudá-la. Apesar de todas as dificuldades, ela nunca desistiu, seguiu em frente e entendeu sua importância para o bairro. Em 2024, Gurigica vive uma realidade diferente, auxiliado por lideranças que transformam o local em uma região acolhedora e de mais oportunidades para o futuro.

Ao longo dos anos, Maria testemunhou grandes mudanças na região onde mora. Ela lembra que, quando chegou, não havia luz elétrica, água encanada, ônibus ou estradas adequadas. Hoje, a realidade é bem diferente. A comunidade ganhou melhorias, com a presença de ônibus, serviços de transportes privados, acesso à tecnologia e mais facilidade para a locomoção dos moradores. Em uma nova época, Gurigica se permite a sonhar devido ao trabalho de figuras históricas, que viveram, sobreviveram e mudaram a história do bairro.

Texto: Danilo Asciba, João Vitor Tavares, Renan Benha e Tiago Taam são alunos do curso de Jornalismo da FAESA, sob supervisão da professora de Projeto Integrador V (2024/2), Lara Rosado.

Calango Notícias

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