Foto: Manoela Canhamaque
Dona Ângela compartilha desafios e conquistas no Território do Bem e lembra do pai, condutor de bondinho em Vitória. Foto:
*Texto: Felipe Amorim, Paulo Rangel, Poliana Rocha e Vittor Poncio
Nascida em 1956, dona Ângela cresceu na comunidade do Bairro da Penha, onde desenvolveu uma profunda relação de amor com suas raízes e tudo que conquistou ali. A comunidade do Território do Bem, onde está incluso o Bairro da Penha, representa 10% de toda a população de Vitória. Ela, que tem seis irmãos, é mãe de quatro filhos, avó de 10 netos e bisavó de um bisneto, compartilha sua trajetória de vida nesse local que faz parte do Território do Bem. Além de sua vida dedicada ao bairro, onde construiu sua história e vive até hoje, ela destaca a figura de seu pai, que era motorneiro, condutor de bondes, e percorria diariamente a Grande Vitória para sustentar a família.
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Com os pais de origem católica, Dona Ângela relembra que tanto a mãe quanto o pai eram muito ligados à família. Na infância, eles moravam em uma outra casa, mas no mesmo bairro. Ela se recorda do quintal grande, do balanço e das muitas crianças ao redor. Nascida e criada ali, ela testemunhou o desenvolvimento do lugar, o que foi de extrema importância para sua vida. Dona Ângela se lembra de como a comunidade cresceu e se transformou ao longo dos anos.
A importância da comunidade em sua vida também está relacionada à quebra de estereótipos. A visão que muitos têm dos moradores de comunidades muitas vezes está associada à criminalidade, reforçada pela mídia. No entanto, a realidade é diferente: as comunidades possuem histórias ricas, que frequentemente passam despercebidas. Embora o bairro tenha enfrentado momentos difíceis, ela ressalta que sempre foi um lugar seguro e sente orgulho de tudo o que construiu lá, especialmente as memórias em família.
Ângela comentou que foi através do trabalho que conseguiu formar o caráter de seus filhos, oferecendo-lhes a oportunidade de estudar, apesar de todas as dificuldades. Ela superou, diversas vezes, as barreiras impostas pela vida.
Desenvolvimento do bairro e lembranças da infância
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Ela relata que seu bairro passou por mudanças consideráveis ao longo dos anos. Algumas dessas mudanças facilitaram a locomoção dos moradores, como as escadarias, ruas e o transporte público, que antes eram de difícil acesso. As creches e escolas também contribuíram muito para a comunidade. Antigamente, era tudo mais complicado, e o posto de saúde mais próximo ficava em Maruípe, muito distante de onde ela morava. Com o tempo, novas unidades de saúde foram construídas no bairro, o que facilitou o atendimento aos moradores do Território do Bem.
Dona Ângela lembra com carinho de seu pai, que era vicentino, e de como o acompanhava à igreja, que passou por uma grande reforma ao longo dos anos. A igreja era um lugar de festas, brincadeiras e celebrações juninas. Ela, que continua devota, lamenta que as crianças de hoje não brinquem mais de roda, pique, pião ou bolinha de gude, atividades que foram se perdendo com o tempo. Ela sente saudades desses momentos.
Uma lembrança especial que ela guarda com muito carinho é das idas ao Parque Moscoso com seus pais e irmãos durante a infância. Eram dias felizes, cheios de brincadeiras e boas memórias, que ficaram gravadas em sua mente. Embora ela não tenha fotos desses momentos, guarda essas lembranças com alegria, pois, apesar das dificuldades, teve uma infância feliz com sua família.
Fé e devoção
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Dona Ângela seguiu os ensinamentos de seu pai, uma figura fundamental em sua vida espiritual. Ela mantém viva a fé católica, como foi ensinada, e, apesar dos momentos difíceis, continua firme, realizando tudo com amor e alegria.
Ao longo dos anos, o grupo mudou; novas pessoas entraram, e muitos dos antigos membros faleceram. No entanto, familiares, como dona Ângela, assumiram o lugar desses membros, garantindo a continuidade do grupo. Atualmente, as reuniões são menos frequentes devido aos compromissos da vida, mas a fé e a esperança dos participantes permanecem inabaláveis. O grupo conta com várias parcerias, incluindo profissionais de saúde, como nutricionistas e outras especialidades médicas, que se preocupam com o bem-estar dos idosos.
“Trabalha e confia”: o lema de uma família
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A relação de Ângela com o pai era marcada por muito amor e afeto. Antes de trabalhar no bondinho, ele atuava nas Centrais Elétricas, que existiam antes da Excelsa. Ela conta que sua mãe trabalhava onde hoje é a Praia do Suá, e seu pai era responsável por ligar a energia a motor.
Depois que ele passou a trabalhar no bonde, levava a família para passear no Parque Moscoso, onde o bondinho fazia seu trajeto. Além disso, Ângela ressalta a representatividade que seu pai tinha: “O meu pai era um pai de verdade, ele sempre lutou muito e esteve ao nosso lado. Era uma pessoa religiosa, muito boa. Não tenho nada a reclamar dele”, afirmou.
Ela finaliza dizendo que sua mãe enfrentava dificuldades no relacionamento com seu pai. Apesar de ele aparentar ser uma boa pessoa, a luta não faltava na família. No entanto, apesar dos bons momentos, Ângela destaca que existiam as dificuldades, mas que prefere guardar consigo os momentos bons e as boas memórias com ele.
O aprendizado adquirido com os pais foi passado para frente. De acordo com dona Ângela, foi através do trabalho que conseguiu formar o caráter de seus filhos, oferecendo-lhes a oportunidade de estudar, apesar de todas as dificuldades. Ela superou, diversas vezes, as barreiras impostas pela vida.
*Felipe Amorim, Paulo Rangel, Poliana Rocha e Vittor Poncio são alunos do curso de Jornalismo da FAESA, sob supervisão da professora de Projeto Integrador V (2024/2), Lara Rosado.
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