ONG Onze8 realiza curso de capacitação com moradores e não moradores do Território do Bem na perspectiva de repensar os materiais construtivos das habitações
Você já pensou na utilidade do plástico em um canteiro de obras? A poluição causada pelo plástico representa um desafio significativo para a nossa sociedade, uma vez que ele leva cerca de 400 anos para se decompor quando não é reaproveitado. Pensar em novas formas de utilizar o plástico é uma das soluções para esse problema. Uma abordagem inovadora e criativa é transformá-lo em um material útil para a construção de moradias. Essa é exatamente uma das propostas do curso de capacitação “FabricATHIS: Elementos e técnicas construtivas para sua casa”, idealizado pela Associação Onze8 em parceria com o Núcleo de Estudos de Arquitetura e Urbanismo (NAU) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e a Associação Ateliê de Ideias.
Entre março e final de maio deste ano, 15 pessoas participaram da primeira turma da formação, que permite aos estudantes experimentarem técnicas de marcenaria, concreto e plástico como componentes construtivos. “Esse projeto é um sonho coletivo de nos apropriarmos do que aprendemos na universidade e executá-lo no canteiro de obras. Colocar em prática com assessoramento técnico e acompanhamento junto às comunidades”, conta um dos idealizadores e gestor executivo do projeto, Ivan Rocha.
Os cursos são realizados com recursos contemplados no Edital do Programa Centelha, uma iniciativa promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e a Fundação CERTI. No Espírito Santo, é executado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES).
O projeto, desenvolvido dentro do Território do Bem, em Vitória, tem como objetivo promover a adequação sociotécnica, uma tecnologia social que busca a transferência de saberes. Seu foco é assessorar os participantes em questões relacionadas à habitação saudável e ao direito à moradia. Uma das principais metas, segundo o idealizador, é quebrar as barreiras hierárquicas que tradicionalmente existem entre engenheiros, arquitetos e pedreiros no canteiro de obras. “Por meio da adequação sociotécnica, buscamos integrar nossos conhecimentos técnicos com os conhecimentos populares no que diz respeito à construção”, explica Rocha.
Morar é um direito
O curso oferecido pela Onze8 possui diversas abordagens, além de proporcionar aos participantes conhecimentos práticos nas áreas de marcenaria, reciclagem de plástico, concreto armado e cobogó, também busca qualificar a mão de obra. No entanto, a proposta vai além disso, buscando estimular a reflexão sobre o direito à moradia saudável e de qualidade. Luiz Guilherme Dutra de Oliveira, jovem de 25 anos e morador de Jardim Camburi, foi um dos participantes pagantes da primeira turma do curso. Dos 15 inscritos, sete pagaram para participar o valor de R$300,00 e a outra parte são alunos que pleitearam a isenção da taxa de inscrição gratuita oferecida aos moradores do Território do Bem como contrapartida do projeto, pela iniciativa acontecer na região.
Oliveira, que é formado em Arquitetura e Urbanismo pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), decidiu se inscrever no curso FabricAthis devido ao seu interesse em uma arquitetura com viés de transformação social, uma das propostas do projeto. Durante sua graduação, ele observou o paradigma da arquitetura convencional, que muitas vezes trabalha em projetos padronizados para uma população que já possui condições habitacionais adequadas. Seu objetivo, a partir do que aprendeu, é desenvolver uma arquitetura que possa atuar nesse contexto, proporcionando qualidade de vida para os moradores, especialmente aqueles em territórios vulneráveis. “Morar em uma casa com qualidade é um direito, porém nem todos têm acesso. Eu me interesso em fazer uma arquitetura que possa atuar nesse cenário, trazendo qualidade de vida para os moradores”, reflete.
Tiago dos Santos Alves Pereira, de 24 anos, morador do Bairro da Penha, uma das nove comunidades que integram o Território do Bem, também participou da primeira turma do curso da FabricAthis. Ele ficou sabendo da oportunidade através das redes sociais de outros projetos que existem no bairro e logo se interessou em se inscrever. “Achei bem diferente de tudo o que eu já fiz. Eu gosto de construir coisas e queria aprender mais”, conta o jovem. Tiago acrescenta ainda que pretende colocar em prática o que aprendeu no curso em sua própria casa, fazendo alguns reparos e pequenas reformas: “aprendi sobre o manuseio de ferramentas, coloquei a mão na massa de verdade. Aprendi coisas que achava antes impossíveis, mas agora vejo que é só a gente ter a oportunidade e o apoio. Agora eu quero aplicar o que aprendi fazendo coisas aqui em casa ou até mesmo trabalhando na Fábrica e produzindo para clientes”, planeja.
Nova turma – Se liga na oportunidade
Estão abertas as inscrições para a segunda turma do Curso de Capacitação da FabricATHIS: Elementos e técnicas construtivas para sua casa.
O curso inicia dia 15 de agosto e segue até 19 de outubro, com aulas terças, quartas e quintas-feiras, de 19h às 21h, no espaço da TecVitória, localizado na Rua Marins Alvarino, 150 – Itararé, Vitória/ES.
No total serão 55 horas de formação nas áreas de marcenaria, concreto e plástico envolvendo questões relacionadas à construção de residências. Também serão abordados métodos para que os/as alunos/as possam fechar serviços e vender seus produtos.
O valor do investimento é de R$475,00, mas para interessados que comprovem morar no Território do Bem a inscrição é gratuita.
Quer saber mais antes de se inscrever? Basta CLICAR AQUI e acessar a apresentação detalhada de todo o curso.
Depois CLIQUE AQUI e faça já sua inscrição!
Matéria: Lorraine Paixão – jornalista voluntária do Calango Notícias
Fotos: Divulgação FabricATHIS
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