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Bares históricos no Território do Bem: Bar do Gomes, Bar do Edinho e Bar do Burro

Fotos: Thamyres Valadares 

A série “Bares no Território do Bem – do clássico ao contemporâneo” dá continuidade ao rolê de subir e descer as ladeiras nos bairros do Território do Bem em busca de histórias e memórias dos bares e botecos da região.

A parceria entre o Calango Notícias e o jornal online Merkato já produziu na primeira série os bares clássicos. Na ocasião atual, a temática é bares históricos. Acompanhe essa série se você é de boteco! A reportagem segue a série com bares contemporâneos e diversificados.

Nesse segundo episódio da reportagem, os bares históricos foram a pauta de trabalho. São aqueles que passam de geração a geração, que o filho (a) trabalha junto com o pai, que tem longevidade no bairro; que é frequentado não somente pelas pessoas do bairro e entorno, mas traz gente de longe por causa da cerveja gelada, o petisco tradicional e, claro, pelo bom atendimento. Além de ter memórias importantes, engraçadas e histórias que a juventude não esquece de contar quando chegam na idade adulta: lembra aquela vez a gente tomando cerveja no bar do fulano? É tipo isso, os bares históricos eles não fecham, suportam as crises econômicas do mercado, recebem todo tipo de gente e faz do seu ambiente uma historiografia de memória.

José Gomes – Foto Thamyres

Nessa imagem de bar histórico está o Bar do Gomes, em Itararé, na Av Maruípe, em frente ao RB Supermercado, que tem funcionamento de meio dia às 23 horas, de segunda-feira a sábado.

O bar foi inaugurado no início da década de 1980 pelo comerciante José Gomes, 68, natural de Anchieta-ES. O dono do bar conta o que tem de mais especial em ser comandante, capitão, tio, brother e camarada.

“O mais gostoso é poder vender e faturar (risos). Mas é a amizade dos clientes, a comunicação com as pessoas, isso é muito bom pra gente poder trocar ideia com os clientes, tem muito gente boa que frequenta esse bar”, disse com humor.

Enquanto a reportagem fazia as devidas apurações estava tocando na TV “Dias Melhores”, de Jota Quest. Durante o trabalho, ainda pôde se ouvir o som de Cássia Eller, Natiruts e Maskavo. Essa é uma das características dos bares históricos: o repertório musical é eclético. Isso porque era fim de tardezinha quando passamos por ali. Pode ter certeza que, a partir das 21h o alfabeto da MPB e os clássicos do sertanejo, com certeza, embalam o Bar do Gomes, afinal de contas, ser bar histórico é transmitir a música que cada cliente gosta.

Além da música, futebol e bar andam juntos. Para fazer história na memória dos clientes, as Copas do Mundo de futebol serão sempre assistidas aqui.  Desde a 1986 até a última de 2022, o Bar do Gomes acompanha de perto. “As televisões ficam ligadas. É normal, não tem programação especial, mas a gente transmite futebol, até do nosso Estado. E na Copa do Mundo dá muito movimento”, pontuou.

Em matéria gastronômica, o bar histórico sempre tem aquele carro chefe: o torresmo. Esse não falta no Bar do Gomes, além de salgados em geral. Durante todo esse tempo servindo a clientela, Gomes resume o que significa ter um bar. “Satisfação. É o trabalho da gente. É meu emprego”.

Com longevidade no estabelecimento, outra coisa que deixa marca história é que o filho de José Gomes, Ezequiel Dalla, desde adolescente trabalha com o pai e ajuda a escrever a história desse estabelecimento. está imerso no ambiente. “Quero continuar a tradição, cada vez mais divulgar o bar e progredir, manter os clientes antigos e buscar os novos”, disse Ezequiel Dalla, 40, que é formado em Administração.

José Gomes e Ezequiel Dalla – Foto Thamyres

E nessa tradição de clientela está a Cláudia Alves, 58, moradora de Santa Marta, que há oito anos frequenta o Bar do Gomes. “Gosto do ambiente, do atendimento, das músicas, do petisco, é tudo muito bom. É fantástico! Eu não abandono esse bar”, elogiou a funcionária pública.

Acompanhada de sua amiga, Joana Souza, 48, moradora do bairro Bonfim, ela também comenta. “Uns dois anos eu frequento aqui, através da Cláudia. Eu gosto de tudo um pouco. É o ambiente, o atendimento, um torresminho bem gostoso e a cerveja bem gelada”.

Bar do Edinho

Também em Itararé, a reportagem caminhou até o Bar do Edinho. O comerciante Wellington Alvarenga, 60, há 18 anos faz história com a famosa sinuca e o jogo de dominó, que rola às quartas-feiras, sextas-feiras e aos sábados.

O bar foi construído no terreno da Elma Alvarenga, casa da mãe de Wellington. Edinho conta que gosta da vida que leva como comerciante, antes trabalhou no Porto de Tubarão.

Ebisom Soares = Foto Thamyres

Em ritmo mais cadenciado, seu bar não abre todos os dias, mas recebe muito bem naquela garagem os clientes que queiram se divertir com os jogos de bar (sinuca e dominó), com o futebol na TV, com o petisco tradicional, entre eles o torresmo, que a reportagem experimentou e, claro, a cerveja gelada, e posso dizer que estava mesmo (risos do repórter). Enquanto apurávamos a matéria, na TV, França e Argentina disputavam as quartas-de-final das Olimpíadas 2024. O time comandado por Thierry Henry venceu a Argentina por 1 a 0. Coisa de bar histórico, a gente para pra assistir, prosear, secar os “Hermanos” e, de quebra, experimentar as iguarias do bar e colecionar mais uma historinha de vida, mesmo com aquela chuva que começou a cair, que aliás, foi ela que nos “prendeu” ao momento histórico.

Um pouco tímido para gravar entrevista, Edinho deu lugar para um cliente falar e representar esse momento. Ebisom Soares, motorista de aplicativo, morador de Itararé há 30 anos e frequentador do bar desde o início, comentou. “A galera gosta de vir jogar dominó, fazer amizade; a galera boa tá toda aqui no bar. E com quase vinte anos de bar, merece entrar na matéria”, disse.

Bar do Ronaldo

A equipe de reportagem, formada por José Salucci (jornalista do Merkato), Gabrielly (articuladora do Calango Notícias) e Thamyres Valadares (fotógrafa do Calango Notícias), seguiu para o morro de São Benedito, após estiar a chuva. Fomos em busca de um bar que tem história, tanta história que daria pra fazer uma exclusiva, mas o propósito da pauta não permite.

Bar do Burro – Foto Thamyres

O Bar do Ronaldo, conhecido como Bar do Burro, está localizado na Rua Tenente Setubal, nº 45, faz divisa com a escadaria Deoclésio Cupertino Gomes, em São Benedito.

Ronaldo Loureiro, 62, nascido e criado no morro de São Benedito, conta que a casa própria e o bar fazem parede. Na verdade, a casa é dentro do bar ou o bar é dentro da casa, depende do ponto de vista. Ele disse que vive dentro do boteco, que mora mais dentro do bar do que em sua casa. “Eu vivo mais dentro do boteco”. Sobe pra casa da mãe pra pegar o rango do almoço, jantar e café da manhã.

Há 32 anos está à frente do bar. Inaugurado em 1993, data registrada na parede do bar, o ambiente tem uma característica de caverna, paredes baixas, lugar estreito.  No centro, uma mesa de sinuca, no fundo do bar uma decoração carnavalesca capixaba. O bar lembra uma “batcaverna”, um lugar de esconderijo e refúgio para os amantes de boteco.

Ronaldo conta um pouco da história e fala da dificuldade de concorrer com as distribuidoras. “Antigamente, o pessoal saía daqui 9 horas da manhã. Todo mundo tranquilo, jogavam sinuca a noite toda, tomavam cachaça… Aí abriram a distribuidora na favela, uma, duas, três; o preço deles é menor, aí o pessoal procura mais, mas mesmo assim o pessoal continua frequentando aqui. E agora eu fiz a carne na brasa. É a churrasqueira dentro do bar, ela fica no balcão”, contou.

Ronaldo Loureiro – Foto Thamyres

O comerciante Ronaldo criou seus quatro filhos com o trabalho no boteco e garante não vender fiado, só pra quem é muito chegado dele. Um dono de boteco com alma simples, recebe todo tipo de público em seu estabelecimento. E pra dar destaque em seu cardápio, a cachaça é o que dá fama a ele. “O famoso limãozinho do burro, cacha-mel, gengibre, faço tudo na hora; batidas de maracujá e limãozinho original da favela. Tudo faço na mão, natural”, disse.

José Salucci

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