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Os desafios para a promoção de saúde no Território do Bem

*Texto: Ana Clara Gonçalves, Brenda Corti, Karol Costa e Kayra Miranda

Já parou para pensar o que significa saúde? Em 1946, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu-a como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. Setenta e sete anos se passaram e muitas pessoas ao redor do mundo ainda não vivem esse conceito na prática.

No Território do Bem, localizado em Vitória, capital do Espírito Santo, essa busca pelo completo bem-estar encontra obstáculos significativos. Composto pelos bairros São Benedito, Da Penha, Itararé, Bonfim, Consolação e Gurigica, além das comunidades Jaburu, Floresta e Engenharia, este território enfrenta a falta de apoio do poder público e depende fortemente de iniciativas voluntárias para implementar medidas efetivas.

De acordo com uma pesquisa de campo realizada em setembro de 2023, por alunos do 6º período de Jornalismo da Faesa Centro Universitário, quando se trata de serviços essenciais para a comunidade, a área da saúde emerge como um ponto

crítico. Dos 70 entrevistados, 40% destacaram a escassez de farmácias, apontando para uma carência no acesso a medicamentos na região. Essa constatação lança luz sobre um desafio crucial que afeta diretamente a saúde e o bem-estar dos moradores.

O líder comunitário do Território do Bem, Valmir Dantas, alega que o local enfrenta diversos problemas sociais que influenciam na saúde da população. “As condições das moradias é uma das causas de doenças respiratórias da maioria da população do Território. O descarte incorreto de lixo e o acesso a médicos especializados também são problemas gravíssimos. A região precisa de investimento na saúde. Nós temos uma cobertura boa na questão de postos de saúde, mas precisa melhorar”, afirma.

A diretora da Unidade de Saúde de Consolação, Nilds Bandeira, ressalta que a região é composta por equipes de atendimento que contém médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem que fazem o possível para cuidar dos pacientes. Entretanto, ela aponta outro problema: os horários. “As pessoas dos 20 aos 60 anos são trabalhadoras e, em grande parte das vezes, o horário de funcionamento da unidade de saúde, é o horário em que elas estão trabalhando. É neste momento que existe a dificuldade de agendar uma consulta”, completa.

Nilds Bandeira e sua equipe da Unidade de Saúde do bairro Consolação reunidos para a Campanha de Vacinação (Dia D). Crédito: Arquivo Pessoal

Solidariedade 

Diante da carência de recursos públicos, a comunidade do Território do Bem não se rende às adversidades. Pelo contrário, mobilizações de voluntários locais surgem como resposta aos desafios na promoção da saúde. Moradores conscientes da importância de cuidar uns dos outros, unem esforços para preencher as lacunas deixadas pela infraestrutura escassa.

Durante a pandemia de Covid-19, moradores intensificaram as ações preventivas contra a doença treinando 20 pessoas para atuarem como voluntários. Eles percorreram as ruas dos nove bairros que fazem parte do Território do Bem, orientando a população sobre como se prevenir do coronavírus, detectar sintomas e a quem pedir ajuda caso suspeitasse estar contaminado.

Valmir Dantas explica que atualmente existe na região um conselho de lideranças que atua na divulgação de campanhas sanitárias. “Em toda campanha de vacinação, Outubro Rosa, Novembro Azul, entre outras, a gente faz esse trabalho de levar a informação para as pessoas. O Território é muito participativo, então conseguimos manter uma adesão muito boa nessas ações”, salienta.

Mudanças 

No centro dos desafios para a promoção da saúde no Território do Bem, surge a necessidade urgente de uma resposta governamental eficaz. A comunidade, por meio de esforços voluntários, reivindica uma presença forte do poder público na implementação de medidas que atendam às demandas de saúde locais.

Nilds Bandeira destaca que o principal problema da região, que precisa ser tratado com prioridade e que impacta diretamente na saúde da população, é a infraestrutura. “A falta de água, saneamento básico, etc, influencia na saúde. Se as condições sanitárias melhorarem, a saúde melhora junto”, diz.

Já Valmir Dantas vai além. O líder comunitário evidencia que, após a pandemia, a população empobreceu e se alimenta mal; as unidades de saúde não comportam mais a grande quantidade de demandas; o número de pessoas em situação de rua e dependentes químicos aumentou; e as condições das moradias estão em péssimo estado. “Existem diversas prioridades. O poder público tem que investir nesse Território e investir pesado. As pessoas estão muito doentes e é responsabilidade do Estado e do município dar assistência e dignidade a essas pessoas”, finaliza.

Gostou do assunto e quer saber mais? Então confira no vídeo abaixo a entrevista que Valmir Dantas e Nilds Bandeira deram ao podcast Tricontando. Em conversa com a jornalista Kayra Miranda, eles abordaram outros desafios que o Território do Bem enfrenta e as ações que precisam ser feitas para esse cenário mudar definitivamente.

*Ana Clara Gonçalves, Brenda Corti, Karol Costa e Kayra Miranda são alunas do curso de Jornalismo da Faesa, sob supervisão da professora de Projeto Integrador V (2023/2), Lara Rosado.

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