A Oficina de Fotografia Documental, terceira da 2ª Edição do Fotografia em Movimento valorizou moradores e resgatou emoções sobre o Território do Bem. Tudo por conta do registro por imagem de histórias de vida de quem já viveu muitos anos e soma experiências por aqui. E a quem diga que terminou o curso com o olhar transformado.
A facilitadora Ana Luzes contou que, desde a primeira aula, a participação da turma foi bem ativa, além das expectativas. E que praticaram a máxima da fotografia documental de que o sujeito vem antes da foto. “Nós falamos muito sobre o processo da fotografia e tivemos a oportunidade de viver na fotografia documental. Sentar e ouvir os moradores, as histórias. E eles respeitaram o espaço do outro. Cada um tinha um olhar único sobre a história, apesar de ser contada a mesma para todos ouvirem”.
A turma teve como exercitar as orientações da instrutura nas três aulas práticas preparadas pelo Ponto de Cultura Varal. Nas ocasiões, foram fotografados moradores antigos da região.
Dona Maria da Penha Lima, 68 anos e o companheiro Seu José Costa Lima, 70 anos, que nos receberam com tanto carinho numa manhã de sábado. O casal fez questão de convidar amigos vizinhos para aparecer nas fotos, o senhor Jair Simões, 95 anos, o Isaias da Rocha e o Ailtom Monteiro.
Marly Rodrigues fotografa desde 2009, quando participou de um projeto de resgate de memória. Naquela época, percebeu que a fotografia não era apenas um registro visual, mas uma maneira de acessar histórias, memórias e sentimentos. Para ela, o olhar, os gestos, os traços, tudo isso comunica uma conexão profunda com o passado e com o presente, algo que a fascina até hoje.
O segundo dia de aula prática da Oficina veio cheio de surpresas, quando os participantes foram com a facilitadora Ana Luzes em busca de moradores dispostos a nos contar suas lembranças.
Primeiro passaram na casa do Seu José Miguel Apolinário, de 89 anos, um fotografo aposentado, mas muito popular entre os moradores mais antigos, que contavam com Seu José para fotografar as festas das famílias do Bairro. Em seguida, fomos à casa da Dona Luiza dos Santos, de 84 anos, que mora em frente a Pracinha de Itararé, e contou para turma como era diferente a paisagem da região antigamente. Em outros tempos, os moradores andavam por caminhos de tábua para sair das casas e hoje esse espaço dá lugar a pracinha do bairro.
Nesse dia, os oficineiros driblaram a timidez de Dona Luiza. E também o fato de Seu José, que, apesar de ser sentir prestigiado com tantos fotógrafos, com toda simpatia do mundo, pediu para turma voltar outro dia.
E mesmo quando a fotografia não foi possível de ser realizada, a aula aconteceu. “Às vezes, a gente vai com tanta expectativa de tirar fotos, fazer uma composição incrível, querendo tirar a melhor foto do mundo, mas a foto pode não acontecer. É um sentimento que a gente também tem que saber lidar”, explicou.
O carinho dos alunos com a professora foi um detalhe extra. “Eu recebia mensagens no privado falando que a aula foi muito legal que a aula é de alguma forma despertou o interesse neles dentro da fotografia documental ou que trabalhou em um ponto que eles precisavam ouvir. Eu sinto que a fotografia tem esse papel de cura. Ao mesmo tempo que ela tem esse poder de denúncia, ela também tem esse poder de cura. Quando a gente viu os fotografados ansiosos para ver as fotografias, foi incrível. Eles estavam se sentindo vistos. Cada fotografia que eles tiravam era um autorretrato deles porque sempre vinha com alguma coisinha que os representava, a identidade deles”.
Ana ainda falou da experiência como instrutora da @varal, como lugar acolhedor como a própria casa. “Fiquei encantada com a recepção. Eu sinto que as pessoas estavam esperando muito por isso. E acredito que na Varal exista a preocupação de entregar o melhor curso. E os alunos já esperam essa qualidade. Eu fico ainda mais feliz em fazer essa conexão com outras pessoas, com um Território”.
Gabhy Almeida foi uma das alunas de Ana Luzes. Ela fez um relato de transformação do olhar sobre o Território do Bem e a fotografia depois da oficina. “Ampliou meus horizontes e me fez perceber coisas que passavam despercebido. Eu sempre tive uma paixão por fotografar a paisagem, as pessoas e os objetos. Mas nunca tinha parado para me perguntar o porquê de documentar essas coisas. A partir da aula, eu percebi que era a fotografia documental. A gente consegue congelar aquele instante, a gente consegue voltar naquele mesmo instante através do olhar. A gente consegue mergulhar novamente naquela sensação de estar naquele local, de como foi. Eu descobrir que é o que eu quero fazer de hoje em diante: fotografia documental”.
Na terceira e última aula prática, a turma subiu para São Benedito, em busca das lembranças da Dona Amélia Rosa da Silva Ferreira, de 71 anos. Do sofá de casa e com netinhos no colo, Dona Amélia bateu um papo com os oficineiros e também com as alunas da FAESA que aproveitaram para entrevista-la.
A nova fotógrafa documental do Território do Bem, Gabhy, registrou a emoção de conhecer melhor a história da dona Amélia. “A gente não fotografou uma pessoa, mas conseguiu fotografar uma história de luta. Foi esplendoroso saber hoje a história de uma pessoa de mais idade que conseguiu acompanhar o desenvolvimento tanto estrutural e econômico de Vitória. Saber a sua história de vida, o quanto o Banco Bem fez diferença na vida dela, que a fez prosperar. Ela conseguiu um cantinho dela, próprio. Conseguiu criar seus filhos, seus netos. Hoje, eles têm essa lição de vida, que foi para todos nós. Apesar de nós morarmos e residirmos em um território periférico, nós podemos sim prosperar. A gente só precisa continuar no caminho certo”, relatou.
A 2ª Edição do Fotografia em Movimento é uma iniciativa do Ponto de Cultura Varal Agência de Comunicação/Associação Ateliê de Ideias, com recursos do Edital de Premiação Cultura Viva Sérgio Mamberti – SCDC / Ministério da Cultura (@minc). 📲
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