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Educação no Território do Bem: esforço comunitário faz a diferença

*Texto: Daniel Godoy, Nathanael Rodor e Tamara Machado

O Território do Bem, fruto da urbanização desigual no Brasil e marcado por elevados índices de pobreza, enfrenta consideráveis desafios na área educacional. De acordo com uma pesquisa do Fórum Bem Maior (FBM) em 2008, 49% da população não completou o primeiro grau, surpreendendo ainda mais, 89% estavam fora da escola naquele ano.

Apesar das estatísticas desafiadoras, o Território do Bem não fica inerte neste contexto. Os dados da Pesquisa Saberes, Fazeres e Perfil dos Moradores do Território do Bem, realizada em 2019, mostra que o índice de pessoas que não completaram o ensino fundamental reduziu para 32,75% e em relação ao Ensino Médio, caiu para 14%. Esses dados mostram que, aos poucos, essas comunidades estão ganhando mais atenção por parte do poder público.

Diversas iniciativas têm sido implementadas para melhorar o acesso à educação de qualidade. O esforço comunitário é um dos fatores cruciais, que tem exercido um papel fundamental na superação dos desafios educacionais e na criação de um ambiente propício para o desenvolvimento da região.

O Centro de Referência das Juventudes (CRJ), por exemplo, oferece um conjunto de oportunidades educativas e recursos que capacitam jovens a desenvolverem habilidades essenciais para o futuro, como a liderança, o empreendedorismo e a cidadania ativa. Os CRJs destacam-se como espaços inclusivos, coletivos e acolhedores, dedicados a atender as diversas demandas das juventudes.

Inaugurado em junho de 2022, o CRJ Território do Bem se destaca como um espaço dedicado ao desenvolvimento das potencialidades dos jovens da região, com idades entre 15 e 24 anos. Dotado de uma infraestrutura diversificada, o CRJ oferece uma sala destinada ao trabalho coletivo, espaço para dança, duas salas equipadas com computadores, além de ambientes específicos para acolhimento e diversas oficinas capacitadoras.

De acordo com a coordenadora-geral do CRJ Território do Bem, Marly Rodrigues, existem várias iniciativas bem-sucedidas na região que tiveram impactos positivos na educação dos jovens. Ela cita o Fórum de Juventudes, o Coletivo Beco, o Ateliê de Ideias, o Serviço de Engajamento Comunitário, o Instituto João XXIII, entre outros. A criação desses espaços de aprendizado desenvolvem um papel muito importante no Território do Bem, que possibilitam fortalecimento e apoio aos jovens da região.

Segundo Marly, esses projetos não só ajudam no acesso à educação, mas também incentivam a participação ativa dos jovens na comunidade, promovendo um ciclo positivo de aprendizado e desenvolvimento. “Ao investir em iniciativas que valorizam a colaboração e a inclusão, o Território do Bem está construindo um futuro muito mais promissor para as próximas gerações”, afirma.

Fátima Oliveira, residente do Bairro da Penha e administradora, é mãe de Ana Alice, de 7 anos, e Felipe, de 12 anos, ambos estudantes em colégios do Território do Bem. Ela destaca a relevância de estar presente e atenta às necessidades e aspirações das crianças, orientando suas decisões conforme os interesses e atividades que os filhos demonstram vontade em participar e aprender, ressaltando a necessidade de incentivar o protagonismo dos filhos e apoiá-los em projetos sociais. “A nossa função como mãe e pai é desenvolver o que a gente percebe na criança” – complementa.

A administradora também ressalta a importância do Planejamento de Vida (PVida), uma iniciativa do CRJ. O programa consiste em traçar um caminho de sonhos e possibilidades para os jovens, tudo com a ajuda de uma equipe. São estabelecidas metas e um percurso a ser seguido. Esta iniciativa faz parte do “Eixo Fortalece Família”, que junto ao espaço “Cola Aê” formam o Núcleo Socioafirmativo e de Acesso do Centro.

Os desafios dos educadores

Alunos do EMEF Aristóbulo Barbosa Leão, Bento Ferreira. Foto: Tamara Machado

Os educadores desempenham um papel fundamental na trajetória educacional e no desenvolvimento integral das crianças e jovens. Eles atuam como facilitadores do aprendizado, orientadores e ainda se tornam grandes inspirações. Além disso, desempenham uma função crucial na promoção do desenvolvimento social, emocional e acadêmico dos estudantes. No contexto do Território do Bem, eles assumem um lugar ainda mais significativo, pois ainda se tornam agentes de transformação social.

Na visão da pedagoga do EMEF Aristóbulo Barbosa Leão, Dileusa Prates de Moura, os desafios enfrentados pelos alunos e educadores no Território do Bem são múltiplos. Ela reforça a importância da presença dos pais na educação dos filhos, reconhecendo a necessidade de uma parceria sólida entre escola e família para superar obstáculos e promover um ambiente educacional mais eficaz.

A pedagoga enfatiza a necessidade de uma abordagem coletiva na educação, reconhecendo a importância tanto da escola quanto da família. Em meio a transformações sociais, como a pandemia e o impacto das redes sociais, ela lamenta a fragilização de muitas famílias, resultando na perda de controle parental sobre os filhos. Em resposta a essa compreensão, a escola implementa diversas atividades voltadas para o engajamento e participação das famílias, consolidando uma abordagem abrangente para melhorar o ambiente educacional, especialmente no Território do Bem. “Hora os pais estão tratando esses jovens como adultos demais, hora como crianças demais. Perdeu-se o meio-termo, isso nos preocupa muito”.

Dileusa Prates de Moura, pedagoga. Foto: Tamara Machado

Apesar dos avanços na qualidade da educação, é notável que ainda existem desafios a serem superados. Seja por meio de abordagens pedagógicas inovadoras, seja por programas de apoio individualizado aos alunos, seja por iniciativas de envolvimento comunitário, é inegável a relevância de adotar medidas específicas que atendam às necessidades particulares de um território fragilizado, delineando um caminho para uma educação mais sólida e inclusiva.

As ações comunitárias fortalecem o envolvimento dos moradores, criando uma rede de suporte essencial que, unida aos esforços das famílias e dos profissionais de educação, têm potencial para transformar a realidade educacional. Ao investir não apenas em conhecimento, mas também no desenvolvimento pessoal e cívico dos jovens, o Território do Bem está pavimentando um caminho resiliente para o futuro.

Confira abaixo um trecho da entrevista com a pedagoga Dileusa Prates de Moura:

Não esqueça de conferir o Podcast: “Os Desafios da Educação no Território do Bem”:

*Daniel Godoy, Nathanael Rodor e Tamara Machado são alunos do curso de Jornalismo da Faesa, sob supervisão da professora de Projeto Integrador V (2023/2), Lara Rosado.

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