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Mulheres empreendedoras do Território do Bem: força e impacto além dos negócios

*Texto: Ana Lara Venturini, Eduardo Pilão, Isabela Vago, Janini Idame e Rayssa Baptista

No centro das comunidades do Território do Bem, o empreendedorismo feminino surge como um pilar sólido, impulsionando não apenas o desenvolvimento econômico, mas também o social. Mulheres visionárias emergem como protagonistas neste panorama, moldando um futuro promissor através de suas iniciativas inovadoras.

O impacto dessas empresárias transcende o âmbito empresarial, tornando-as verdadeiras agentes de transformação em suas comunidades. Não apenas criam empregos, mas também inspiram outras mulheres a trilharem caminhos empreendedores. O reinvestimento na comunidade é um traço marcante dessas mulheres, impulsionando um aumento notável no desenvolvimento local.

Durante a pandemia, muitas pessoas viram suas vidas mudarem drasticamente. Com o confinamento causado pela Covid-19, o desemprego cresceu, forçando muitos a procurarem novas fontes de renda, e o empreendedorismo se destacou como uma das poucas possibilidades disponíveis. Laudicéia Ribeiro, que antes trabalhava como manicure, viu-se diante deste desafio.

“Trabalhei por 20 anos como manicure, mas durante a pandemia, não podia atender em salões ou em casa. Foi aí que meu esposo sugeriu o empreendimento em casa, fazendo delivery de bolos no pote. Com o tempo, expandimos para uma loja de doces no bairro de Itararé”, compartilhou Lau.

Em junho de 2021, Lau inaugurou a sua unidade física em Itararé, a Lau Sweeties. Desde então a loja é um sucesso. Foto: Arquivo Pessoal (Lau Ribeiro/@lausweeties)

Além dela, a costureira Gizele Fontoura é uma das pessoas que teve a oportunidade de ganhar espaço no empreendedorismo. “Na pandemia, todos ficamos isolados e precisávamos fazer algo para colocar dinheiro dentro de casa. Foi aí que minha filha me deu a ideia de começar a costurar. Comecei a fazer máscaras para uma empresa e a partir daí fui tendo mais pedidos”, explica Gizele.

O ateliê de Gizele fica no Bairro da Penha, mas atende clientes de todo o Território do Bem. Foto: Arquivo Pessoal (Gizele Fontoura/@ateliegizelefontoura)

O empreendedorismo é uma área em crescente expansão no Brasil e no mundo. E os dados do Data Favela mostram que a renda própria dos moradores atingiu R$202 bilhões em 2022, um aumento de R$12,6 bilhões em relação ao ano anterior. Destacando o crescente interesse das comunidades em abrir seus próprios negócios, refletindo um anseio por desenvolvimento local. Mas nem todas as pessoas têm acesso às informações necessárias para desenvolver e estabelecer um pequeno empreendimento, especialmente em comunidades mais humildes. É nesse contexto que surgem projetos sociais destinados a auxiliar a população local, fornecendo suporte para transformar ideias em ações concretas.

O suporte de organizações voltadas para o empoderamento feminino, como o Coletivo do Beco nos bairros do Território do Bem, revela-se essencial no percurso empreendedor das mulheres. Iniciativas como essa oferecem orientação, treinamento e recursos valiosos, proporcionando uma rede de apoio fundamental para suas jornadas.

Ana Clara Moreira, coordenadora do projeto, destaca a importância das atividades realizadas para as mulheres, abordando a economia criativa e a disponibilização de cursos profissionalizantes que capacitam essas mulheres a compreenderem como iniciar um negócio.

“A parte empreendedora que nós trabalhamos são com várias mulheres por meio da economia criativa a partir dos trabalhos que elas desenvolvem. Na parte de qualificação, disponibilizamos cursos profissionalizantes para que elas tenham acesso e entender como abrir um negócio”, explica Ana Clara.

Ajuda para expandir

Com o aumento das demandas, Gizele começou a pensar na possibilidade de inaugurar um ateliê no Bairro da Penha. Entretanto, deparou-se com a limitação de recursos financeiros para concretizar seu plano.

Foi então que o Território do Bem se tornou parte integrante de sua trajetória empreendedora. “Participei de um curso de empreendedorismo promovido pelo Território do Bem, o que representou um marco fundamental. Posteriormente, fomos premiados em um concurso de empreendedorismo em 2021, o que proporcionou o suporte financeiro necessário para a abertura da loja. Iniciamos no Bairro da Penha e, agora, expandimos nossas operações para Itararé,” completa Gizele.

O Coletivo Beco ajuda várias mulheres com ações profissionalizantes. Sempre com foco em dar às mulheres do Território do Bem uma capacitação profissional e encorajando as mesmas. Foto: Arquivo Pessoal (Ana Clara Moreira)

Localização não é um problema

Os empreendimentos localizados em áreas frequentemente abordadas pela mídia devido à veiculação constante de notícias sobre violência suscitam, por parte dos residentes de outras regiões, uma concepção de perigo nesses locais. Essa percepção, de forma indireta, pode ter impactos nos empreendimentos estabelecidos nesses espaços.

Gizele compartilhou sua experiência, mencionando que algumas clientes ocasionalmente sentem apreensão ao visitar seu ateliê. Para conter tais preocupações, ela adota a estratégia de realizar chamadas de vídeo para apresentar o entorno e oferecer maior segurança aos clientes.

Apesar do estigma associado a esses locais por serem considerados marginalizados, as mulheres empreendedoras estabelecidas nessas áreas se transformam em fontes de inspiração para indivíduos tanto dentro quanto fora dos limites territoriais designados como “Território do Bem”. Laudiceia complementa: “A comunidade nos percebe como modelos inspiradores. Ao descobrirem minha origem em Itararé, as jovens compreendem que é viável crescer e empreender em bairros considerados menos privilegiados.”

Assim, o empreendedorismo feminino no Território do Bem não só representa uma força de resiliência e sucesso, mas também um farol que ilumina um caminho para um futuro brilhante. Com histórias inspiradoras e redes de apoio sólidas, as mulheres empreendedoras da região estão deixando um legado transformador para as gerações vindouras.

Confira abaixo o videocast na íntegra:

*Ana Lara Venturini, Eduardo Pilão, Isabela Vago, Janini Idame e Rayssa Baptista são alunos do curso de Jornalismo da FAESA, sob supervisão da professora de Projeto Integrador V (2023/2), Lara Rosado.

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