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Falta de água afeta a vida dos moradores do Território do Bem

Foto: Kellen Mara

Moradores reclamam que o problema persiste desde os últimos meses de 2020, prejudicando as tarefas cotidianas das famílias. As lideranças comunitárias buscaram o apoio da Defensoria Pública que oficiou a Cesan e a Prefeitura de Vitória.

Os moradores do Território do Bem, principalmente aqueles situados nas partes mais altas das comunidades, estão sofrendo com a falta de água. O problema vem ocorrendo mais seriamente desde o mês de novembro de 2020, afetando principalmente os bairros da Penha e São Benedito, e a Companhia de Abastecimento (Cesan) empresa responsável pelo serviço não soluciona o problema.

O problema das comunidades é relatado por famílias que estão enfrentando a dificuldade de não ter água encanada em casa há mais de seis meses. É o caso de Mariane Cristina Novais do Santos, moradora do alto do Bairro da Penha. Ela afirma que, desde o passado, as dificuldades têm sido muitas para os moradores e um desafio para quem cuida das tarefas domésticas e até para a higiene pessoal nestes tempos de pandemia.

Foto: Kellen Mara

“Chegamos a ficar 23 dias sem água na encenação. Tudo começou na semana das eleições e, desde então, um dia sim e outro não caia água normal. Assim trocaram as redes e o problema piorou”. Mariane conta que “teve dias em que os 14 moradores escadaria no alto do morro onde moro ficaram sem água completamente. Foi doloroso porque com essa pandemia o mínimo que podíamos fazer era lavar as mãos e nem isso podemos”, afirma.

O problema só não se agravou ainda porque os moradores improvisaram ligações, de encanamentos de vizinhos para que a água chegasse mais próximo das residências afetadas.  “Em um local aqui próximo que vem outra rede, carregávamos baldes e baldes de água, revessávamos com outros moradores enchíamos as caixas carregando baldes de escada acima, com lágrimas nos olhos, mas íamos. O banho das crianças se tornou uma brincadeira já que não podíamos levá-los a lugar nenhum por conta do Covid. Então banho de mangueira no beco era a diversão deles e o choro das mães por passar por essa situação”, afirma a moradora.

Mariane é mãe de três filhos – Arthur, de 9 anos, David Lucca, de 7, e Pérola de 5 – que veem o pai, Leonardo Nascimento dos Santos, carregar baldes de água quando a caixa está totalmente vazia. Com isso estão aprendendo nas dificuldades, a economizar água. “Um fica vigiando o outro na hora do banho e falando para não desperdiçar água”, relata.

Na casa do jardineiro Wilson Oliveira, o Miltinho, em São Benedito, o drama não é diferente. Ele afirma que no alto do morro quase sempre falta água nas torneiras. Ele se lembra que desde 1992 a comunidade convive com essa dificuldade, mas que tem se tornado pior nos últimos meses. Na casa de Miltinho moram cinco pessoas e, às vezes, falta água para o café. “Eu pago a água, mas as vezes não tem não tem nem para tomar banho, fazer um café, lavar o rosto ou fazer comida”, reclama o morador.

Na tentativa de minimizar o problema, ele instalou em sua casa três caixas d’água que, juntas, tem capacidade para armazenar 3.800 litros do produto, mas tem momentos que todas estão vazias. “A água quando chega, às vezes, a gente fica de meia noite até às seis da manhã, para ver se pega água, porque ela não cai na caixa. Aí a gente vai trabalhar com sono”, reclama Wilson.

Na casa de Josi Santos, o drama é igual ao dos vizinhos. Desde o final do ano passado, água na caixa é coisa rara. Ela mora no térreo com o marido, filha, três cachorros e três gatos. No segundo andar é a residência do irmão, a cunhada e a sobrinha. “Se tornou muito difícil viver nestas condições, principalmente no período mais quente, janeiro e fevereiro. A saída foi pedir baldes de água para os vizinhos que não foram afetados”, afirma.

Ela conta que a cunhada tem um pequeno empreendimento de bolos e doces, mas que o negócio também foi prejudicado por falta de água. “Sem água ela não conseguia produzir e fazer as vendas” afirma. Josi é uma das moradoras que se juntou às lideranças comunitárias para cobrar da Cesan um encaminhamento para o problema.

“Em tempo de pandemia é uma preocupação muito grande essa situação. A gente já tem que ficar mais em casa, trabalhando de home office, a preocupação do contato com outras pessoas, ter que se higienizar sempre, pois o álcool em gel não é o suficiente para isso. E o cuidado da casa? Água é vida, a gente precisa beber, fazer a comida, e ainda com a pandemia, é situação muito complexa, que aumenta o estresse”, declara a morada.

Problema antigo

Foto: Kellen Mara

O problema de abastecimento de água nas partes mais altas das comunidades do Território do Bem, em Vitória, é antigo. Segundo Valmir Dantas, morador de São Benedito e integrante do Fórum Bem Maior “nas parte mais alta, a falta de água e corriqueira, problema de décadas, entra governo e sai governo e nada é resolvido, e somos nós lideranças que seguramos as mazelas, ajudando como podemos”, afirma.

Valmir explica que “nos últimos meses as coisas se agravaram em alguns pontos, dezenas de famílias ficaram sem água por várias semanas. Além do Fórum Bem Maior, também se uniram em busca de uma solução para o problema diversas organizações e coletivos locais, como o Fórum da Juventude do Território do Bem, Coletivo Beco, Associações de Moradores, lideranças comunitárias e os moradores impactados pela falta de água.

Apoio da Defensoria Pública

Diante da falta de respostas para o problema, por parte da Cesan, Valmir conta que os  movimentos sociais, lideranças comunitárias e moradores atingidos pela falta de água foram buscar ajuda junto à Defensoria Pública do Espírito Santo, e agora contam com o apoio do defensor Vinicius Lamego de Paula, do Núcleo de Defesa Agrária e Moradia.

“Nós fomos acionados pelas lideranças do Território do Bem sobre o problema da água e eu participei de uma reunião com as lideranças e com mais de 20 moradores onde foram relatados os problemas de abastecimento e as dificuldades. Então, de imediato, oficiamos a empresa e o município de Vitória com pedidos de informações”, conta o defensor.

Ele explica que apenas a Cesan respondeu o ofício. Segundo o defensor público a empresa aponta dois problemas que afetam o abastecimento de água na região. O primeiro é que a falta de pressão da água para chegar às partes mais altas das comunidades. Um projeto que poderia solucionar o problema, iniciado no projeto Terra melhorando a estrutura da rede, não foi concluído pelo município.

Outro fator alegado à Defensoria Pública são as ligações irregulares na rede, que gera uma demanda maior de abastecimento, previstos pela Companhia. Além de ocasionar vazamentos que não comunicados à empresa, levando ao desperdício e ao desabastecimento.

“Estamos buscando uma reunião com a Secretaria de Obras para ter explicações e encaminhamentos. Junto com o Coletivo Beco vamos aplicar um questionário junto aos moradores para dimensionar melhor o problema no Território e buscar solução para os mesmos”, finalizou o defensor.

A resposta da empresa

Para saber sobre os possíveis encaminhamentos para resolver o problema, o  Calango Notícias também ouviu o Diretor Operacional da Cesan, Rodolpho Gomes Có. Ele explicou que a Cesan trabalha para interligar a rede instalada pelo Projeto Terra à sua rede, o que vai garantir maior pressão e  melhorar o abastecimento de água nas comunidades. “ A empresa já estuda esta integração de redes e a previsão é de até o final de 2022 todo o trabalho esteja concluído. Isso vai melhorar muito o abastecimento”, afirmou.

Sobre a falta de ligação na rede por parte dos moradores, o diretor da Cesan acredita que cerca de 30% das instalações não estejam oficialmente vinculadas de rede da empresa. “São ligações à rede feitas por conta própria, que geram um grande consumo, mas não tem matrícula. E quando há vazamentos não denunciam, prejudicando as outras pessoas”, afirmou

Para solucionar o problema, a Cesan pretender realizar um projeto social nas comunidades para conscientizar e incentivar os moradores para fazerem a ligação regular.

Segundo ele, assistentes sociais já estão trabalhando com as lideranças comunitárias e até o mês de junho deverão apresentar um cronograma de ações que deverão ser realizadas nas comunidades.

Marina Filetti

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