Em momento de desemprego em alta, associações de catadores de materiais recicláveis abrem as portas para novos associados, com o apoio do projeto Catadores São Educadores
Atualmente no Brasil 12,6 milhões de pessoas, o que representa 11,8% da população, está desempregada. O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) divulgada no final o mês de agosto último.
Esta dura realidade enfrentada pela população brasileira é constatada na porta das associações de catadores de materiais recicláveis de Vitória para onde vão, diariamente, muitas pessoas à procura de uma vaga de trabalho. E é nestes locais que algumas delas estão encontrando oportunidades para mudar de vida.
As três associações da capital – Ascamare, Amariv e Amarv, estão incluindo novos trabalhadores e trabalhadoras em seus quadros de associados, incluindo pessoas em situação de rua. Já são 10 pessoas que encontraram no trabalho com materiais recicláveis, uma alternativa para melhorar sua situação econômica.
Amariv
Este é, por exemplo, o caso de Whendria Nascimento Rocha, de 33 anos, que junto com outras cinco pessoas, foram incluídas nos quadros da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória (Amariv). Natural de Linhares, ela morava nas ruas de Vitória, mas há um mês conseguiu alugar novamente uma “casinha” e viver com mais dignidade.
Whendria já trabalhou em diversos locais como embaladora, segurança, auxiliar de cozinha, e teve seu próprio carrinho como catadora. Mas, por causa das drogas, perdeu tudo e foi morar nas ruas de Vtiória. “Hoje luto muito para retomar minha vida. Não é fácil, mas estou agarrando esta oportunidade com muita força. Sei que depende de mim mudar”, afirma.
Ela conta com o apoio de profissionais do Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População de Rua (Centro-pop) do município, mas afirma: “Se eu continuasse desempregada, não sei o que seria de mim”. Empenhada na mudança, Whendria diz que busca aprender tudo dentro da Amariv para desempenhar bem suas funções. “Graças a Deus estou cada dia melhor, cada dia aprendo uma coisa nova, os materiais são muito diferentes, é preciso aprender para fazer direito”.
Outro que comemora a oportunidade de ser incluído nos quadros da Amariv é Tiago Couto, de 31 anos. Casado, pai de um filho, e desempregado há 4 anos, ele também encontrou no carrinho e na catação de materiais recicláveis, o meio para sustentar sua família. “Mas trabalhar na Associação é melhor, o carrinho é pesado, dá calo na mão, e a gente não é respeitado, sofre muita discriminação”, afirma.
Trabalhando com materiais recicláveis, Tiago se considera um trabalhador na defesa do meio ambiente, e com isso diz que se esforça para separar adequadamente seus resíduos até em casa. “Tudo tem valor”, afirma.
De acordo com a Secretária da Amariv, Lúcia Oliveira dos Santos, que faz a triagem das pessoas que procuram trabalho no local, a Amariv já conta com 25 associados em seus quadros. É preciso preparar estas pessoas, orientar sobre o trabalho em associação e em equipe, para que elas permaneçam na entidade.
Ascamare
Na Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Vitória (Ascamare) quatro novos trabalhadores foram incluídos nos quadros de associados. Entre os novos está Sônia Teixeira Rezende, de 43 anos, e mãe de cinco filhos.
Desempregada também há mais de quatro anos, ela se tornou catadora autônoma para sustentar a família, catando latinhas e outros materiais nas ruas de Jardim da Penha e Resistência.
Sônia sabe que como associada, o salário não é fixo, depende da produção de todo o grupo, mas “sempre é mais do que eu ganhava na rua. E aqui tudo é partilhado e o trabalho em equipe é sempre melhor”, declara.
Bruno Correa, de 34 anos e com o 2º grau completo, trabalhava numa empresa priv
ada de coleta, mas foi demitido por sorteio pois a empresa precisava “enxugar” seu quadro de funcionários. “Me considerava um bom funcionário, mas dei azar”, afirma num misto de decepção mas de bom humor.
E também foi como carrinheiro e catador de recicláveis que encontrou um meio para sobreviver. “A coleta na rua é muito difícil, chamam a gente de vagabundo, lixeiro, mendigo, mas só o que queremos é ganhar o pão de cada dia”. Ele diz que até já sofreu violência nas ruas. “Aqui na Associação não corro perigo e o trabalho é mais seguro”, diz.
De acordo com a presidente da Ascamare, Josimeire Jesus dos Santos, a inclusão destes trabalhadores passa por um processo de adaptação ao trabalho. “Primeiro eles passam pela adaptação nas funções, no trabalho em equipe, e somente depois, em assembleia da Associação, são avaliados e então admitidos como associados”, explicou.
Amarv
Pescador desempregado e pai de três filhos Daniel dos Santos, de 41 anos, integra os quadros da Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Vitória (Amarv) há menos de um mês. Mas nesse pouco tempo ele já aprendeu quase todas as funções de uma associação que trabalha com a separação de materiais recicláveis.
“Eu já catava latinha e cobre para complementar a renda na minha casa. Nunca separei os meus resíduos, tudo ia para o mesmo saco, mas agora vou fazer diferente, pois estou aprendendo mais que cada coisa tem o seu valor, nada é lixo”, afirmou.
Maria Aparecida Pereira, presidente da Amarv, diz que a entidade pretende incluir mais trabalhadores. “Estamos conversando com um grupo de catadores e estudando uma parceria pois já são pessoas experientes nessa área”, afirmou.
Catadores são Educadores
A inclusão de novos catadores nos quadros das associações está acontecendo devido ao apoio e incentivo do Projeto Catadores São Educadores, realizado pela Associação Ateliê de Ideias em parceria com a Prefeitura de Vitória, através da Secretaria Municipal de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho (Semcid) e o Procon Vitória, e as associações Asmare, Amariv e Amarv.
O projeto, que tem como foco principal a promoção da sustentabilidade na cidade de Vitória, está incentivando a coleta direta de materiais recicláveis em condomínios, no comércio e em instituições públicas. Isso aumenta a quantidade e qualidade do material coletado e garante a melhoria da renda das entidades.
Com a iniciativa a renda dos catadores também aumentou, em média 23%. A presidente da Ascamare, Josimeire Jesus dos Santos, explica que antes do projeto, a renda média de cada um dos 18 associados da entidade, era em média de R$ 700,00. Hoje a entidade já contabiliza um pagamento mensal de R$ 1.000,00 a R$ 1.200,00 mensais para cada associado.
“É um resultado que nos anima muito e que nos incentiva a continuar lutando para a promoção da sustentabilidade social e ambiental da nossa cidade e a retirada destes trabalhadores da fila do desemprego e das ruas”, afirmou Leonora Mol, coordenadora do projeto.
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